quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Agosto de 1997



E pronto, lá se vão os últimos dias de Agosto !




Quantos amores de verão, lembranças, guardados de memória de um qualquer mês de Agosto...




Também eu me transporto a um passado mês de Agosto para aqui convosco partilhar uma história de vida e de um Agosto que se pudesse voltar no tempo, apagaria do calendário cristão...




Corria o ano de 1997.




Era dia 31 de Agosto.




Afanada mente, mas feliz, Magnólia preparava a festa de aniversário da sua única filha de 4 anos de idade.




Seria celebrada num estabelecimento de restauração situado na praia do Garajau.




Apesar da gerente do estabelecimento ser sua amiga e adorar a menina, importaria cara a aventura, aonde se previram jogos na praia, corridas de barco, e várias actividades no interior do mesmo, próprias quer para as crianças convidadas, quer para os adultos.




Na verdade, toda a turma do colégio - infantário da menina, aonde também já estudara Magnólia, pessoal docente, madre directora, padre capelão, iriam ao aniversário e despedida da princezinha.




Também os adultos familiares e amigos lá estariam com o mesmo propósito.




Todos sabiam que a seguir àquele dia ,Magnólia e a filha rumariam para Lisboa, aonde a primeira iniciaria formação com vista a enveredar por nova carreira profissional.




Magnólia licenciara-se em direito com nota de mérito.




Iniciou um percurso profissional alucinante que alterou em alguma medida em razão do casamento.




Contudo mesmo após tal acontecimento exerceu sempre cargo de direcção por mérito, entregando-se sempre a várias actividades demandadas pela sua alma activa, versátil, pouco dada a rotinas, quase inconstante, impregnada do voluntarismo ingénuo de quem criará um mundo novo.




Tudo o que fazia, fazia-o sempre apaixonadamente .




Não casou apaixonada, mas o marido foi na verdade o primeiro homem da sua vida e por ónus de formação e convicção ser-lhe-ia fiel e esforçar-se-ia por fazê-lo feliz.




Já ele, casou "de quatro", pois esta mulher sabe fazer-se amar, quando quer...




Mas ainda assim o casamento não deu certo.




Acordaram na separação, depois no divórcio.




Magnólia perguntava-se porquê. Teria ela feito algo errado ?




Era profundamente ligada a uma avó e o primeiro lugar que buscou para conversar a respeito, foi a sua campa.




Ali , como se uma tela de cinema projectasse cenas da sua vida, recordou momentos felizes, engraçados, partilhados por ambas.




A voz da avó ralhando com os garotos que lhe destruíam as culturas, já velhinha, dizendo : a minha neta vai ser doutora e vai prender-vos, seus malandros...




Depois queixava-se a ela dos meliantes e dizia-lhe : quando a menina se formar a avó já tem separado o dinheiro para dizer uma missa por tal intenção.




E num dia de aniversário ofertou-lhe uma ilustração belíssima com um texto biblíaco do livro de Isaías que se refere às qualidades que deve ter um homem de lei, um julgador e aonde se dizia que " Deus não terá por inocente aquele que exercendo tal poder trouxer opróbrio contra os órfãos, as viúvas , os desamparados do meu Povo".




Quando ali se encontrava, desceu ao cemitério a bondosa Alzira que caridosamente tratava algumas campas.




-Olha a menina Magnólia por aqui. Que coisa boa. Entre abraços e memórias deixou escapar :




A vozinha morreu mas eu entreguei o dinheiro ao Padre Alberto e a missa foi dita quando a menina se formou ...




Aquela revelação teve um impacto indescritível em Magnólia.




Decidiu cumprir a vontade da avó.




Seria difícil, com a menina e não só, mas ela sabia-se capaz.




Nunca deixaria, por medo, de pelo menos tentar...




Naquele dia 31 de Agosto trazia o bolo para a festa e o rádio noticiava o falecimento da Princesa Diana de Gales.




Realezas à parte, Magnólia e Diana tinham tanto de comum em suas vidas ...




-" Que horror", impressionou-se como se atormentada por uma espécie de presságio estranho...




A festa foi um sucesso. Um dia de felicidade irrepetível...




Habituada a bons resultados, a reconhecimento de mérito, Magnólia sofreu o embate do acesso a uma carreira dominada ao nível das instâncias de poder pela masculinidade, pela pouca abertura à mudança de procedimentos, formas , formatos.




Ela não era domável senão às suas mais profundas convicções mas sofreu a "formatação" possível e necessária ao desempenho da função que tanto idealizou e em tanto a desiludiu a vários níveis.




Porquê? Porque te meteste nisso?Perguntam os amigos. Vês agora ?!...




Crêem até que mais nada tinhas para fazer, a presunção, o preconceito, as ideias feitas que tanto sofrimento te causam não se apresentam nesse mundo?




A resposta vem pronta :




- Só assim sei ser útil aos outros,




- Só assim sei ser válida,




- Mudo o Mundo, sim, em pequeninos passos e pequeninas mudanças nos mundos de cada pessoa a quem dou um pouco de trabalho útil para essa pessoa.


E nunca cogitei estar na vida de outra maneira.



Mas é isso que se quer ?...



Quem sabe ?



Talvez existam incompatibilidades insupríveis entre o ideal e o possível, como em tudo, na vida...


Como em todos os mundos, até nos mundos aonde as histórias, ao contrário desta, são reais.

Maria

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

terça-feira, 11 de agosto de 2009




Desenho de um adeus

Quando o meu corpo em cinzas

Se desfizer em húmus sobre a terra,

Saberás que repousei, enfim, da guerra,

Depondo o cansaço de tantas agonias já vividas,

Entre as malvas verdes do caminho.

Verdes, como o teu olhar de esperança,

De ver renascer em meu ser, tal qual criança,

Nova vontade de viver e de ser brilho...

Não me lamentes , nem por um momento.

Pois felicidade maior , maior contento,

É não sentir a dor, matar todo o tormento.

Quem sabe se sobre a morte de todo o encantamento,

Não renasce de novo uma flor...


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sábado, 8 de agosto de 2009

Boa noite, Maria !


Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio...
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite!... E tu dizes – Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não me digas descobrindo o peito,
– Mar de amor onde vagam meus desejos.

Julieta do céu! Ouve.. a calhandra
já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
...Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela-dalva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo dalvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."

É noite ainda! Brilha na cambraia
– Desmanchado o roupão, a espádua nua –
o globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...

É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
Fechemos sobre nós estas cortinas...
– São as asas do arcanjo dos amores.

A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!

Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...

Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
– Boa noite! –, formosa Consuelo...

terça-feira, 4 de agosto de 2009